09/06/2011

Entrevista com Deserdados



Percebi que a formação mudou... Vi vocês no show que fizeram no luar (com o Cólera, Total Terror DK, Gricerina, Orfãos e 80-85) em Itaquera, vocês podem falar um pouco sobre essa mudança na formação, e o que acharam do show?
R:) Esse assunto é um pouco delicado. Quando uma banda é formada e começa a tocar, surgem muitos sonhos e muitas coisas são planejadas, porém, nunca está nos planos de uma banda uma alteração na sua formação. Entretanto, todos sabem também que as pessoas mudam, surgem novas prioridades, etc. Com certeza as saídas do Danone e do Jamaica foram uma grande perda para a banda, mas também tivemos ganhos com as entradas do Celo (inicialmente na guitarra, quando a banda virou um quarteto. Quando o Danone saiu, o Celo foi para o baixo e a banda voltou a ser um trio) e do Favela. Ambos já acompanhavam a banda há bastante tempo e a adaptação foi super rápida. O Danone e o Jamaica optaram por deixar a banda, e nós temos que respeitar a decisão deles. Mas nada mudou entre todos nós, continuamos sendo todos amigos. O passado foi legal, mas temos que valorizar as coisas que estão acontecendo agora.
Quanto ao show de Itaquera, nós comentamos sobre ele faz pouco tempo... Nós gostamos muito dele: o lugar, os bandas, as pessoas e, principalmente, a nossa apresentação. Acreditamos que foi um dos melhores shows que fizemos nos últimos tempos. Estávamos bem ensaiados, a aparelhagem estava boa e a energia do público nos deixou bastante empolgados.

Aliás, eu vi um outro show de vocês a um tempo atrás em frente a galeria do rock, vocês tocaram com o Cólera, com o Phobia Punk Rockers (não me lembro das outras bandas) e foi legal pra caramba. Não só as bandas mais todo o pessoal, não teve briga (eu não vi nenhuma pelo menos hehehe), vocês acham que há um progresso com relação a isso, o número de idiotas que arrumam brigas tem diminuido?
R:) Nesse dia, infelizmente, houveram sim algumas brigas. É até chato ficar falando disso... Não que o assunto não seja relevante, mas é porque dá moral pra essas merdas que acontecem, tá ligado? Nós achamos sim que o número de pessoas que vão aos shows para brigar está diminuindo. A nosso ver, isso se deve, principalmente, ao fato das gangues estarem deixando de existir aos poucos ou diminuindo de tamanho. Os poucos que ainda fazem isso, com certeza são essas pessoas que precisam se auto afirmar, que encontram na violência uma maneira de se achar superiores aos demais. Essa estupidez está acima de qualquer ideal, não estamos falando apenas de punks ou similares... O que essas pessoas querem, é chegar a um lugar qualquer e ver os outros ficarem com medo deles, ficarem tensos, etc. Coisa puramente de ganguista. Antigamente, até entendemos a razão da existência das gangues, mas, hoje em dia, não faz mais sentido, não é necessário.
O Deserdados não é trilha sonora de treta. Se a gente estiver tocando e as pessoas começarem a brigar, nós paramos de tocar. O nosso inimigo é outro, provavelmente ele não está no meio do público do show.

Vocês acham que a cena anda mais monótona se comparada com os anos 90, a internet deixou a coisa toda muito "virtual"?
R:) Essa é uma questão que pode ser interpretada de duas maneiras. Algumas coisas foram se perdendo com o tempo, realmente. O melhor exemplo disso são os Zines. Não existe mais aquele trampo de fazer as artes, transcrever os textos, tirar as fotocópias, etc. Hoje em dia, qualquer um pode começar um blog com custo quase zero (já que, apesar de hoje ser barato, é necessário um computador com acesso à internet ou pagar uma lan house), o que, por outro lado, deixa as coisas muito mais simples. Nós vemos essas evoluções com bons olhos, afinal, temos que usar essas coisas em nosso proveito. Hoje em dia é fácil fazer contatos com o pessoal que está mais distante, pedir e mandar material das bandas, marcar shows e turnês, divulgar e conhecer novas bandas, etc. Sem contar a facilidade que temos hoje de gravar e lançar discos. Procuramos sempre enxergar o lado bom das coisas, hehehe.

Vocês tem outros projetos ou tocam em outras bandas além do Deserdados?
R:) Atualmente o Lambão só toca no Deserdados. Já o Celo, toca também na banda Lokaut (www.myspace.com/lokaut). O Favela toca bateria no SxPxSxC (www.myspace.com/spsc.punk) e canta no Esquizofrenia (www.myspace.com/bandaesquizofrenia).

Em 2000 vocês lançaram o Revolução Agora, e em 2002 o Mau Exemplo, que selo lançou vocês nesses dois albuns? Ou vocês "se lançaram"? O próximo album, como vocês pretendem lançar?
R:) A gente se lançou, mas contamos com a ajuda de alguns selos. No “Revolução, Agora!”, foi o Kaskadura Records. Depois o mesmo foi relançado, desta vez a parceria foi entre a banda e a Corsário Records. O “Mau Exemplo”, foi lançado pela Teenager In A Box Records.
O próximo álbum, que vai sair esse ano ainda, certamente será lançado em parceria. Só não vou dar o nome do selo ainda porque não está 100% fechado, mas está tudo muito bem encaminhado. Vamos lançar, provavelmente, em CD e algumas cópias em LP.

Durante esse tempo (de 2002 até agora) vocês ficaram sem lançar nada, ou tiveram participações em coletâneas e afins?
R:) Na verdade, a banda sempre se manteve na ativa, fazendo shows, etc. Nós relançamos o álbum “Revolução, Agora!” (com duas músicas bônus), que estava fora de catálogo, e pretendemos relançar o “Mau Exemplo” também, que está fora de catálogo. Além disso, participamos de algumas coletâneas. Por exemplo:

MOLOKO PLUS # 19
Lançada em 2002
Compilação do fanzine alemão "Moloko Plus"
Música: 1977.

CHAOZ DAY Vol.2
Lançada em 2009 - Casa Punk Records
Compilação de bandas independentes
Músicas: Ave César e Nova Ordem Mundial.

USPICIUS PUNKRUSP
Lançada em 2009 - Corsário Records
Compilação de bandas independentes
Música: Lavagem Cerebral.



O Favela me disse pela internet que vocês tão ensaiando, e fazendo sons novos para um album novo, vocês podem falar um pouco sobre essa nova fase do Deserdados, vocês tem previsão para lançar esse album?
R:) Estamos encarando essa nova fase como um recomeço mesmo, principalmente por causa da reformulação da banda. Está tudo como se fosse um início de banda. Estamos empolgados com as novas músicas e não vemos a hora de gravá-las. Houve grandes mudanças na vida pessoal dos integrantes da banda durante esses anos em que não lançamos nenhum trabalho inteiramente próprio. Aconteceram coisas muito boas e outras nem tanto. A banda amadureceu. Voltou a ser um trio e os integrantes se dão muito bem. Curtimos os roles que fazemos e esperamos continuar por ainda muito tempo. O novo álbum deve ser lançado ainda este ano.

Dizem que a "cena" é meio intermitente, uma hora tem gente fazendo coisas e se envolvendo, outra hora fica "fraca", no entanto sempre continua! Vocês concordam com isso? Alguma vez ficaram desanimados com o cenário?
R:) Tudo tem seus altos e baixos. Não diria que ela fica “fraca”. A cena é muito forte, já existe há décadas e é talvez a maior referência de resistência dentro do underground. Moda vem, moda vai e a cena continua. As vezes acontecem coisas que afastam pessoas da cena, como por exemplo quando a mídia espalha coisas que queimam nosso filme. É interessante, pois as coisas legais que acontecem no cenário somos nós que nos esforçamos pra divulgar, a mídia de massa não ajuda... As vezes você acaba desanimando com algo, mas é coisa passageira. Nesses momentos você tem que apegar-se às coisas positivas, as coisas que você somou. Ah.. e principalmente aos amigos que você fez.

Vocês acham que acordar cedo na segunda feira é ótimo pra dar inspiração para escrever novas músicas? (se é que vocês acordam cedo na segunda) hehehe...
R:) Acordamos cedo na segunda sim. Realmente dá muita inspiração! Rs. Não só o acordar cedo, mas também pegar a condução, passar o dia inteiro resolvendo problemas de pessoas que tem bem menos problemas que você (estão melhor de vida), ser tratado com apenas mais um, um número, etc. Mas também temos que nos inspirar em coisas boas, não é mesmo?

Vocês tem algum comentário final?
R:) Sim. Você que está lendo este zine, vá aos shows das bandas independentes. Não estamos falando isso por fazermos parte de uma, mas porque é no underground que você poderá encontrar os trabalhos mais sinceros, de gente que não tem rabo preso com o esquemão, que faz o que realmente gosta e está pouco se importando em sair bem na foto. Não que você tenha que parar de ouvir determinada banda, porque ela é de uma 'major'. Não estamos aqui para dizer o que você deve fazer, e sim para lhe apresentar uma alternativa. As bandas das grandes gravadoras 'chegam até você', mesmo sem você querer – pelo rádio, tv, etc. Aí rola um lance meio que de passividade por parte do público. Te socam goela abaixo, gostando ou não. É muito bom 'chegar até um artista', descobri-lo, ser o agente. Assim você está ajudando a manter uma cena na qual você é importante, pois faz parte dela.
Valeu pelo espaço e parabéns pelo trabalho. Até mais!

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